terça-feira, 28 de agosto de 2012

LEMBRANDO AGAMENON



Agamenon Magalhães  que  tanta  grandeza  encerra,
Nasceu  em  Serra Talhada,
Naquela  talhada  serra,  por  isso nasceu
Talhado  para  governar  sua  terra”.


Os versos e trocadilhos do grande poeta e cantador Lourival Batista, dá a grandeza e a dimensão do político AGAMENON Sérgio de Godói MAGALHÃES.

Ele tinha sólida formação intelectual, pois foi Geógrafo, Professor de Geografia, Bacharel pela Faculdade de Direito do Recife.

Em 1916, foi Promotor Público em Lourenço da Mata; em 1918 foi eleito Deputado Estadual, e em 1924, Deputado Federal.

Ao lado de Carlos de Lima Cavalcante, apoiou Getúlio para derrubar a República Velha (1930).

Conhecido em Pernambuco como “China Gordo” ou “O Malaio”, nasceu em Serra Talhada, sertão de Pernambuco, em 1893. Foi Ministro da Justiça e do Trabalho no governo Vargas.

Foi interventor durante o Estado Novo. Perdeu o poder com a redemocratização (1945) e recuperou em 1950, quando foi eleito Governador de Pernambuco. Ganhou no Interior e perdeu na Capital. Chamou o Recife de “Cidade Cruel”.

Com menos de 02 anos de mandato, morreu de infarto fulminante em Recife, no dia 24 de Agosto de 1952.
Há 60 anos Pernambuco ficou órfão de seu maior político. Carlos de Lima Cavalcante, seu amigo, e depois adversário, confessou que chorou ao tomar conhecimento de sua morte.

Agamenon era um apaixonado pela cultura popular. Abria seus comícios com cantadores de viola e os recebia no Palácio do Governo. Mas, certamente, não gostou de um verso feito por Zé Limeira, o “Poeta do Absurdo”.

Cantando com Otacílio Batista para Agamenon sua esposa e convidados, Zé Limeira fez um verso do tamanho de sua loucura:
                                                 Otacílio:
“E antes que a nossa festa aqui se finde,
Doutor Agamenon, receba o brinde
Que à Dona Antonieta estou erguendo”,

Seguindo a tradição Zé Limeira respondeu:
“Eu, cantando para Dona Antonieta,
A muié do Doutor Agamenon,
Fico como o rei magro do Sion,
Me coçando na mesma tabuleta,
Eu aqui vou rasgando a caderneta
De Otacílio Batista, patriota....
Doutor, como eu não tenho um brinde em nota,
Que possa oferecer à sua esposa,
Dou-lhe um quilo de merda de raposa
Numa casca de cana piojota”.

Agamenon era um político contraditório: Bem preparado intelectualmente e realizador, prestigiava os coronéis do interior, ligados ao PSD, entre os quais Manoel Cordeiro de Melo Filho, de Lagoa dos Gatos.

O Juiz de Direito Alfredo Pessoa de Lima retratou o governo de Agamenon Magalhães de forma contundente, no livro “Um Juiz no Reino de um Malaio”.

E assim, como disse Ataulfo Alves: “Morre o homem e fica a fama”!!!!

Givaldo Soares





terça-feira, 21 de agosto de 2012

CONVITE DA UBE-RN


O presidente da União Brasileira de Escritores – 

UBE/RN convida Vossa Senhoria e família parao 

lançamento do livro A TORRE AZUL do amigo e 

confrade Horácio Paiva, vol. 03, 
da Coleção Antônio Pinto de Medeiros (Poesia)

Data: 30.08.2012 (Quinta-feira)

Hora: 18h

Local:Academia Norte-Rio-Grandense de Letras
Rua Mipibu, 443 – Petrópolis

Eduardo Antonio Gosson
Presidente

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

PERFIL: DR. JOSÉ GERALDO DA FONSECA

 Formatura em Odontologia: 1952

 Cumprimentado pelo então Governador Garibaldi Alves Filho
 Nos ombros do filhão "Cacá" - Carnaval em Pirangi

Fazendo pose diante do Restaurante


SAI DA REDE, ZEZINHO!!!
          “Uma vida sem amigos é como viver numa ilha deserta,                         sem água, sem alimentos, sem luz”.

Este é o grito de guerra que utilizo quando telefono para o meu amigo, colega e compadre José Geraldo da Fonseca, um dos colegas mais queridos da Odontologia do Rio Grande do Norte.

Ele é hoje, junto com Fernando Dantas de Rezende, os dois Decanos da  profissão odontológica.

Zé Geraldo é natural de São João do Sabugi, onde nasceu em 03 de Fevereiro de 1925. É um jovem de 87 anos...

Cedo fez duas opções: Uma pela música, aonde chegou a ser um grande saxofonista, e pela telegrafia, que exerceu como profissão nos Correios.

Muito jovem, deixou sua querida cidade e foi estudar no colégio Diocesano, em Caicó. Lá exerceu o cargo de Prefeito do colégio. Tudo isso, a convite do Monsenhor Walfredo Gurgel, que depois, foi eleito Governador do Rio Grande do Norte.
                                        Monsenhor Walfredo Gurgel
                                                 Tutor e Amigo
                                                         
Em 1947, veio complementar seus estudos em Natal, no tradicional Atheneu, e foi morar na antiga Casa do Estudante, na Rua Seridó.

Concluiu seu curso de Odontologia na turma de 1952. Regressou a Caicó e exerceu a profissão com muito êxito, adquirindo uma grande clientela e uma legião de amigos.

Era disputado pelas mulheres de Caicó e das cidades vizinhas. Mas não resistiu aos encantos e ao charme de Maria Alice Medeiros da Fonseca “Alicinha”, com quem casou  em 19/01/1963. 

Da união nasceram três filhos: Ricardo Luis Medeiros da Fonseca, Carlos Eduardo Medeiros da Fonseca e José Geraldo Moura da Fonseca Júnior.

Em 1966, deixou o calor caicoense e veio gozar da brisa natalense. Aqui trabalhou nos Correios da Ribeira e no Instituto do Açúcar e do Álcool. Deste último, levou duas heranças: A doçura do açúcar e o gosto por um bom uísque.

Desempenhava uma intensa atividade profissional e social. Pertence ao Rotary Clube, que presidiu em 1971/72 e à Associação Brasileira de Odontologia, que presidiu nos mesmos anos.

Assim é José Geraldo da Fonseca, um gigante nas relações humanas que não conhece a palavra não.

Hoje, aos 87 anos, um pouco adoentado, recebe os cuidados da esposa, dos filhos e a preocupação dos amigos. Resiste com a bravura de um umbuzeiro de beira de rio.

Zé Geraldo é um exemplo de pai, cidadão e amigo.

O poeta Paulo Mendes Campos dizia:
“Que o homem é um gesto que se faz ou não se faz”

Zé é um amigo dos grandes gestos!!


Givaldo Soares

domingo, 12 de agosto de 2012

EXPLICAÇÃO SOBRE FRACASSOS NAS OLIMPÍADAS



UMA VOLTA ATRÁS 

Por que o Brasil não salta a barreira do blá-blá-blá e engrena uma política vencedora de esporte na escola?

JOAQUIM CARVALHO CRUZ tinha 21 anos quando, vestindo azul, carregou sua magreza e seu semblante de esforço ao até hoje único ouro olímpico do Brasil em provas de pista no atletismo. 
Correu a final dos 800 metros rasos dos Jogos de Los Angeles, em 1984, em 1 minuto e 43 segundos, recorde olímpico na ocasião. Lá se vão quase 30 anos. 
E tanta coisa mudou de lá para cá. A União Soviética, que boicotou aquela Olimpíada, desapareceu. 
A China ficou só em quarto. O próprio Joaquim, que continua magro, modesto e tímido, já não tem aquela cabeleira toda, ganhou uns fios grisalhos e agora fala com leve sotaque americano - reflexo dos 30 anos nos Estados Unidos, onde estudou, casou, cria seus dois filhos adolescentes, trabalha num centro médico da Marinha americana procurando talentos esportivos entre militares feridos de guerra, treina atletas olímpicos e paraolímpicos do país e, finalmente, onde pensa em maneiras de mudar o Brasil por meio do esporte.
“É incrível que nesses 30 anos quase nada tenha mudado estruturalmente nessa área. Será que nossos dirigentes e políticos ainda não enxergaram que a solução para nossos problemas está no esporte na escola?”, ele pergunta retoricamente, porque sabe bem a resposta. 
“É na escola que formaremos uma base grande da qual será possível tirar muitos campeões.” 
De outro modo, ele lamenta, continuaremos a suspirar por esporádicos heróis como o ginasta Arthur Zanetti, ouro nas argolas em Londres, e os irmãos Falcão do boxe, que treinavam humildemente socando humildes bananeiras num humilde quintal. 
“A falta de oportunidades para o garoto brasileiro que queira ser esportista me assusta.”
Mas Joaquim não fala apenas. Ele também age. Em Brasília, onde mantém um instituto que leva seu nome, acaba de iniciar um processo seletivo para descobrir e formar fundistas capazes de medalhar na Olimpíada de 2020. 
O Programa Rumo ao Pódio, patrocinado pela multinacional do ramo de embalagens Tetra Pak com R$ 1,4 milhão, recebeu 1.400 inscritos. Depois de uma fina peneira inspirada no modelo de seleção dos Seals americanos, sobrarão 30 jovens de 16 a 20 anos.
Na quinta-feira, Joaquim estava no Estádio Olímpico de Londres quando falou ao Aliás por telefone. 
Entre uma resposta e outra, dirigia palavras de conforto à corredora americana Alice Schmidt, sua pupila, desclassificada na semifinal dos 800 metros. 
Ele contou como foi, desta vez nos bastidores, fazer história de novo nos Jogos. Joaquim também era o técnico da atleta saudita Sarah Attar, de 19 anos, que de calça, mangas compridas e lenço na cabeça, foi ovacionada pela plateia mesmo terminado sua prova em último lugar. 
Pela primeira vez o comitê olímpico saudita permitiu a participação de mulheres nos Jogos. E se até isso mudou...

O que te vem à cabeça quando dirigentes esportivos e políticos dizem que nós seremos top 10 nos Jogos do Rio em 2016? 
- Bom, essa é a especialidade deles, não é? Falar. Falar qualquer coisa. Mas tudo bem. Falar de objetivos altos não é ruim. Só que já se passaram dois anos desde que o Brasil foi escolhido para sediar a Olimpíada e nada foi feito para mudar o que interessa, o que realmente será capaz de construir uma realidade nova no País, que é o esporte na escola. Será que não enxergam que esse é nosso maior problema? Eu li que dias atrás, aqui em Londres, autoridades brasileiras iniciaram oficialmente a contagem regressiva para os Jogos do Rio. Com relógio e tudo. Só agora?! Essa contagem tinha que ter começado dois anos atrás. Se seis anos já seriam insuficientes para formar um atleta ou mudar a estrutura esportiva do Brasil, quatro anos então... Temos que mexer nesse cenário ONTEM. Os políticos e dirigentes fazem muita política e pouca ação. A hora de falar já passou. Agora é hora de agir.

O dinheiro aumentou. Fala-se em R$ 2 bilhões investidos nos últimos quatro anos. Seria o dobro do ciclo olímpico anterior. 
- Sim, é verdade. Cresceu o apoio às confederações e ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que são os responsáveis pela tarefa de possibilitar que os atletas ganhem medalhas. Mas tem um detalhe. Nós não temos esses atletas em quantidade. Temos uns poucos. Sabe por quê? Porque a base de onde se extraem possíveis medalhistas olímpicos é minúscula. Tirando o futebol, o Brasil não é uma mina que jorra atletas de alto desempenho. A falta dessa base é nossa maior deficiência. E a base precisa ser feita na escola. É o caminho mais fácil e promissor, para o esporte e para o País. Nos últimos seis anos, saiu ministro de Esporte, entrou ministro de Esporte. Saiu presidente da República, entrou presidente da República. E mudou o quê? Mas algo ainda pode ser feito.

O quê? De que maneira? 
- Para o Rio 2016 podemos copiar o exemplo britânico. Eles chamaram um holandês que mandou todo mundo embora e convidou um monte de gente comprovadamente boa, experts, muitos ex-esportistas do mundo todo, para trabalhar basicamente com os atletas já existentes e com potencial. Por meio das loterias, aumentaram os repasses de dinheiro e investiram pesado individualmente nesses atletas. O resultado está aí: a Grã-Bretanha deve terminar em terceiro lugar no quadro de medalhas, sua melhor participação na história da Olimpíada.

Mas esse método não mascara nossa grande deficiência, que é justamente a inexistência de um programa esportivo duradouro e que nos faça crescer como nação? As medalhas olímpicas devem ser o objetivo em si ou a consequência de um trabalho maior? 
- Você tem razão. A Olimpíada não vai acabar em 2016. E acho que o Brasil também não. Então, não precisamos pensar tão pragmaticamente só para daqui a quatro anos. O correto é aproveitar a grande oportunidade que temos para implantar esse programa mais duradouro junto com a educação, algo de que toda a população vai se beneficiar. Porque está mais do que provado que a prática de esportes melhora as notas dos alunos, afasta os jovens das drogas, da criminalidade, dá oportunidade e por aí vai. Por outro lado, ter a medalha olímpica como objetivo não é ruim. O atleta, o garoto, precisa acreditar que é possível. Parece pouco, mas te asseguro que significa um passo enorme.
Imagino que essa segurança vem da sua própria história... - Sim, da minha vida no esporte. Quando eu tinha 15 anos um americano me deu um par de tênis All Star - eu jogava basquete - e disse que quando eu terminasse a escola em Taguatinga ele me daria uma bolsa para estudar e jogar numa universidade americana. Eu ia duvidar? De jeito nenhum! Eu pensava: “Puxa, se esse cara que nem é meu parente, meu amigo ou meu vizinho vem de outro país e acredita desse jeito em mim, eu devo ser especial... Vou nessa!” Foi assim que me tornei medalhista olímpico, seis anos depois. Então, nós temos que plantar a semente da vitória. A vitória pode ser a medalha olímpica. Mas também é a jornada do garoto atrás dessa medalha. Veja uma coisa. Hoje (quinta-feira) a minha atleta, Alice Schmidt, que eu treinei por sete anos, não se classificou para a final dos 800 metros. Ela deixou a pista chorando, eu a deixei chorar um tempo e então fui conversar. Ela já está no final da carreira, portanto era praticamente a última chance dela em Olimpíada. Perguntei se, apesar do resultado ruim em Londres, ela tinha aprendido algo na trajetória esportiva dela. “Muita coisa, aprendi a viver”, ela me respondeu. É isso! A medalha representa o sacrifício, o esforço, é um símbolo importante. Mas, se ela não vem, a jornada tem que ter servido para aprendizados e sentimentos maiores, coisas que você vai carregar pelo resto da vida.

Além da Alice havia outra corredora treinada por você nos 800 metros, a Sarah Attar. Ela chegou em último lugar na eliminatória, 45 segundos atrás da primeira colocada, mas fez história por ser a primeira mulher saudita a disputar uma prova de atletismo nos Jogos. Que tal a experiência? 
- A Sarah realizou o sonho de muitas mulheres e meninas. Ela permitiu que as novas gerações sonhem. Conheci a Sarah apenas seis semanas atrás, e tenho orgulho dela como se fosse minha filha. Ela é originalmente corredora de maratona. Nasceu nos Estados Unidos e tem dupla cidadania, porque a mãe é americana e o pai, saudita. Treina e estuda em uma universidade da Califórnia. O pai me ligou, explicou a situação. Ela tinha sido convidada pelo COI, não disputou seletiva. Eu topei e pensei: “Meu Deus, preciso montar um programa de trabalho para que essa menina termine a prova sem se machucar”. Porque mudar da maratona para os 800 metros não é pouca coisa. Seria o mesmo que pedir pro Usain Bolt correr os 10 mil metros. No fim, foi uma experiência muito legal. A Sarah é supercompetitiva. Estava preocupada, não queria fazer feio. Ficava na internet investigando sobre a pior marca dos 800 metros na história dos Jogos. Aí falei para ela: “Para com isso, Sarah. Você já é uma vencedora olímpica antes de entrar na pista. Quanto mais tempo você levar, melhor para o mundo! Não esquenta com o tempo”. Ela curtiu estar ali. Depois da prova veio me dizer que não tinha sentido o próprio corpo durante toda a corrida. Estava consumida pela energia da plateia.

Voltando às ambições brasileiras: como é que se forja uma potência olímpica? 
- Certamente não é em quatro anos. Tem que dar oportunidade para o garoto praticar esporte na escola, na comunidade dele, e dali você tira os fora de série capazes de competir em alto nível. Qual é nossa realidade hoje? Trinta por cento das escolas públicas brasileiras não têm espaço adequado à prática esportiva. Não estou falando de quadras poliesportivas. Não existe espaço nenhum, nada. São dados de uma pesquisa encomendada pela organização Atletas Pela Cidadania, da qual faço parte junto com Raí, Ana Moser, Magic Paula e uma porção de atletas preocupados com o futuro do País. Hoje acontece o seguinte: o garoto pobre brasileiro vê os grandes heróis olímpicos pela TV, se empolga e sente vontade de imitá-los. Quer correr, nadar, jogar tênis, saltar. Ok, ótimo! Mas onde ele vai praticar? Em clubes? Esquece, a família dele não tem dinheiro para pagar a mensalidade. Quando eu ganhei a medalha de ouro em Los Angeles, meu irmão e meu primo ficaram tão entusiasmados que decidiram correr também. Começaram a correr na rua mesmo, sozinhos, sem instrução, já que não tinha outro jeito. Durou dois dias o entusiasmo deles. E talvez nós tenhamos perdido duas medalhas olímpicas, vai saber... Isso faz quase 30 anos e continua do mesmo jeito. O poder público não pode sonegar essa oportunidade ao garoto. Tem o dever de proporcionar a chance de ele manter o entusiasmo, a chama. E é a escola pública que pode fazer isso, não o clube. Do clube saem os atletas cujas famílias podem bancar o início da jornada dele.

Um modelo perverso que faz o Brasil viver de heróis olímpicos esporádicos, não? Seu caso é uma exceção. 
- Mais ou menos. Eu tive sorte. Como meu pai era carpinteiro, trabalhava na indústria de construção civil, eu podia frequentar o Sesi (Serviço Social da Indústria) de Taguatinga. Meus amigos da escola ou do bairro não podiam, pois precisava de carteirinha para entrar. Então, aos 7 anos eu fui estudar num local que oferecia também boa estrutura para a prática de esporte. Ali encontrei meu primeiro professor de basquete, que depois descobriu meu talento para o atletismo. Era um lugar onde eu passava a maior parte do meu tempo. No Sesi fui apresentado a educação física, tratamento médico, alimentação correta, vi um dentista pela primeira vez na vida, tomava remédio para matar os bichos da barriga. O Joaquim Cruz campeão olímpico vem daí. Mas e os meus amigos e vizinhos que só tinham a rua?

Por onde você começaria a mudança? 
- Insisto: na escola. Nos meus tempos de ginásio, nós íamos para a escola de manhã e voltávamos lá à tarde para as aulas de educação física. Hoje a educação física está dentro da grade escolar, antes da aula de matemática e depois da de história. Ou seja, o garoto que é bom em algum esporte, joga um basquetinho ralado na rua dele, não vai poder desenvolver essa aptidão na escola, onde poderia dar a sorte de ter um professor capaz de identificar nele algum potencial. Ao contrário, ele vai ter só os 50 minutos de aula, insuficientes para desenvolver algo consistente ou mostrar seu talento. E assim, o garoto que gosta de jogar na rua continua na rua. Aí ele chega à adolescência, fase da vida em que a gente se junta, faz grupos, turminhas, e em vez de se juntar a um grupo de estudantes atletas como ele, com possibilidade de construir uma vida melhor, ele se junta a grupos destrutivos. Bem, eu acho que o Brasil conhece bem essa história...

Como funciona nos Estados Unidos? 
- Vou contar a minha experiência para você sentir a diferença. Eu tenho dois filhos, de 18 e 15 anos. Quando o mais velho tinha 4, minha mulher me pediu que eu o colocasse no esporte. “Ok, vou matriculá-lo no futebol.” Saí da minha casa, andei mil metros até o centro comunitário do bairro e inscrevi meu garoto nas aulas de futebol. Ali mesmo, no ato da inscrição, me perguntaram se eu gostaria de ser professor voluntário da turma do meu filho. Eu disse que não, pois não tinha experiência. Eu nunca tinha tido um filho! Depois assumi uma turma de basquete. Mas na primeira reunião com as famílias outro pai se prontificou a ficar com as aulas. Ele recebeu as instruções necessárias e foi credenciado pela prefeitura para ser treinador. Como nessa fase é algo bem básico, mais a título de diversão, tudo bem que não seja um especialista. E tudo isso sem custo, muito perto de casa, bem organizado e com boas instalações. O centro comunitário tem ginásio, piscina, quadra de tênis, campo gramado. Sem luxo, mas com o necessário. Cada bairro tem o seu, a 3 ou 4 quilômetros um do outro. O esporte está injetado na cultura americana - e começa quase sempre nesses centros comunitários oferecidos pela prefeitura.

E depois? - Na sequência vem a escola. No primeiro grau o garoto é apresentado a diferentes modalidades, ainda sem competição. No ensino médio ele pode participar de esportes competitivos e escolher: ou faz as aulas de educação física, que são obrigatórias, ou entra para uma equipe que vai competir com outras escolas do bairro, da cidade, do Estado, do país. O poder público dá dinheiro para as escolas manterem essas equipes. Elas são muito tradicionais. E tudo faz parte de um grande sistema gerenciado por uma espécie de federação estadual, sem fins lucrativos, que organiza as competições. Essa federação então trabalha em conjunto com as universidades, que vão recrutar os melhores para serem seus esportistas estudantes. A base, portanto, é muito grande. Encontrar atletas com potencial para o alto rendimento não é procurar agulha no palheiro como no Brasil. Desse sistema americano saem todos os grandes esportistas do país.

Por que é tão difícil estruturar um sistema assim no Brasil?
Porque nossos políticos conversam demais, e só entre eles. Os Atletas pela Cidadania têm um plano pronto, com diversas propostas de ação, entre elas a de que o País invista para levar esporte a todas, TODAS as escolas públicas até 2022. Há quase um ano nós pedimos uma audiência com a presidente Dilma para apresentar esse plano. Estamos esperando.

E por que você insiste, Joaquim? Por que se importa? Por que luta contra uma estrutura que está aí há pelo menos 500 anos? 
- (Depois de longo silêncio, emocionado) Olha, o meu trabalho como gente, como ser humano, não acabou ainda. Eu nasci com um objetivo. E se isso não for levado para a frente, todo o sacrifício, os treinamentos, as dores, as cirurgias terão sido em vão. (Silêncio de novo.) Existe algo maior do que tudo isso, sabe? Eu acredito que toda criança nasce uma estrela e tem o direito de brilhar. E nós adultos temos a responsabilidade de oferecer oportunidades de ela brilhar. Acho que é isso...’    

Fonte: Christian Carvalho Cruz - O Estado de São Paulo - 11.08.12 - http://www.estadao.com.br


sábado, 11 de agosto de 2012

PARABÉNS, PAIS CONFRADES!


AS MÃOS DO MEU PAI (*)

As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...


(*) Mário Quintana, Poeta gaúcho:
30.07.1906-Alegrete/05.05.1994-Porto Alegre