segunda-feira, 10 de junho de 2013

AGRADECIMENTO COMOVIDO4




AGRADECIMENTO

“Retire do homem o sonho e o que restará?” (Fernando Pessoa)

Recebi, com orgulho e humildade, a escolha do meu nome para figurar na lista da Sociedade Brasileira de Reabilitação Oral (SBRO) que prestará uma homenagem aos dez “Profissionais que fazem a diferença na Odontologia brasileira” durante o 18º Encontro Nacional na SBRO, em junho de 2013.

Agradeço de coração e atribuo a indicação, no meu caso particular, aos 62 anos de trabalho dedicados à Odontologia.

Em 1952, na pequena cidade de Lagoa dos Gatos­/PE, comecei atuando na Prótese Dentária, auxiliando um dentista prático chamado Agenor Vieira da Cunha, o qual possuía grande habilidade e sensibilidade estética.

Cheguei a Natal, em 1955 pelas mãos de Nelson João da Silva, Luís Carlos Abbott Galvão e Clemente Galvão Neto. Comecei aqui uma nova vida profissional na Prótese Dentária.

O Laboratório Galvão, onde comecei a trabalhar, era um dos melhores do Nordeste, sendo concessionário da Ticonium, dos Estados Unidos da América. 
Um bom exemplo do avanço tecnológico do laboratório eram as fundições elétricas do cromocobalto para confecções das próteses removíveis, coisa muito avançada para a época.

O laboratório era uma pequena universidade dirigida por quarteto de notável saber: Clemente Galvão, Solon Galvão e Nelson João na parte técnica, e na área administrativa, Luís Carlos Abbott Galvão, um grande administrador.

Em 1964, fiz vestibular para Odontologia. Foi difícil a aprovação, pois trabalhava de dia e estudava à noite na Escola Técnica de Comércio, dirigida pelo professor Ulisses de Góes.

Fui salvo pelo professor Júlio Sambaqui, Ministro da Educação do governo de João Goulart, que duplicou as vagas na universidade, possibilitando-me, assim, o tão sonhado ingresso na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Concluí o curso em 1967. No 2º ano fui surpreendido com um convite do professor Rosalvo Pinheiro Galvão com apoio de Solon Galvão Filho para ser Monitor da Disciplina de Prótese Dentária.  
Foi esse o meu grande momento na Odontologia, pois, sendo Monitor do Professor Solon, pude beber em uma fonte inesgotável de conhecimentos da Oclusão e do Sistema Estomatognático.

Minha carreira de professor foi curta. Apenas sete anos. Não tendo vocação para o magistério, resolvi renunciar.

Como estudante, passei a frequentar a Associação Brasileira de Odontologia do Rio Grande do Norte, e vi o grande trabalho de Odilon de Amorim Garcia, que fez um empréstimo bancário, com o aval de 20 colegas, para comprar o terreno da antiga sede, na Rua Felipe Camarão. 

Vi Clemente Galvão legalizar o terreno e cuidar do projeto e Pedro Lopes Cardoso, num trabalho gigantesco, concluir a sede, durante suas duas gestões.

Acompanhei de perto o trabalho de Fernando Dantas de Rezende, durante 46 anos como secretário daquela Instituição. Assim era a Associação Brasileira de Odontologia há cinquenta anos.

Ao concluir o curso fui convidado para o cargo de Diretor de Publicidade e responsável pelo jornal da ABO/RN. Na administração de Jeno Tinôco 78/79 fui seu vice-presidente.

Tenho grande orgulho por ter sido o autor da proposta da criação da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da ABO/RN, que contou com o apoio do professor Solon Galvão, fazendo a doação de uma cadeira odontológica; Nelson João, doador de um equipo e Jeno Tinoco, um aparelho de Radiologia.

A Escola foi inaugurada com o curso de “Dentística Restauradora”, ministrado pelo professor Danilo Damásio e o Cirurgião Dentista Fernando Rezende.

Assim era a Associação Brasileira de Odontologia do Rio Grande do Norte, todos lutando pelo engrandecimento da classe. 

Mas todas as instituições têm um inimigo comum: “o vírus do personalismo”. Ele ocorre quando os indivíduos se tornam maiores do que as próprias instituições. Instala-se uma ditadura onde todos obedecem a uma única voz.

Orgulho-me também de ter sido um dos fundadores do Sindicato dos Odontologistas do Estado do Rio Grande do Norte, e ainda guardo a carteira de associado nº 13.

Participei da gestão do Professor Lenilson de Carvalho no Conselho Regional de Odontologia do RN, entre os anos 2006 e 2010. 

Era responsável pela Comissão de Ética, um campo bastante difícil, onde recebi uma lição de vida inesquecível: uma jovem Dentista, em atendimento clínico a uma criança, deparou-se com uma reação alérgica da paciente ao anestésico local aplicado. 
Em pânico e apavorada, ela não prestou assistência emergencial à criança, e esta foi levada ao hospital pelos vizinhos da clínica. Foi atendida e ficou com sequelas neurológicas. 
A família ameaçou levar o caso à justiça. Analisado pela Comissão de Ética fizemos um acordo.

Vi neste episódio um gesto humano de grande significado. Na audiência de conciliação o pai da criança, chorando, assim se expressou: “Sofro ao ver minha filha nesta situação, mas não posso e não tenho o direito de destruir a carreira de uma jovem Dentista”. Estas palavras facilitaram o acordo.
Lembrei-me das palavras de Leonardo Boff: 
“O ser humano só é humano se for superhumano”.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    
Em 1991, criei a Associação dos Protesistas do Rio Grande do Norte e o jornal “Prótese Dentária’’. 

Tentando encontrar o fio histórico de nossa profissão, fiz 10 entrevistas, com a finalidade de contar um pouco da história da Odontologia do Rio Grande do Norte, e entrevistei: José Cavalcante de Melo, Odilon de Amorim Garcia, Clemente Galvão Neto, Solon Galvão Filho, João Rodrigues Filho, Joaquim Guilherme, Nelson João Silva, Ricardo Calazans, José Carlos Leite, Fernando Dantas de Rezende e Severino Nunes (TPD).

Na gestão de Eimar Lopes de Oliveira no Conselho Regional de Odontologia do RN tive meu nome escolhido como Patrono da biblioteca da instituição. Fiquei sensibilizado e agradecido com esse gesto do amigo, que não posso esquecer.

Assim é a minha vida, dedicada à família e à profissão odontológica. Mas, a maior homenagem que recebi foi o amor e a dedicação de minha mulher e dos meus filhos.

Agradeço à Odontologia que me permitiu mantê-los e educá-los. Tenho três filhas Dentistas, um filho Bacharel em Direito e Procurador do Distrito Federal e cinco lindos netos.

Portanto, ao agradecer à plenária do Conselho Regional de Odontologia do Rio Grande do Norte que indicou o meu nome para figurar na lista dos “Profissionais que fazem a diferença na Odontologia brasileira”, relembro o apóstolo São Paulo: 
                          “Combati o bom combate e não perdi a fé”.

Givaldo Soares